sábado, 22 de noviembre de 2008

Metaforeando...

Sabe quando vc é pequeno e resolve fingir que é adulto? Pois é... imagine comigo:

Você acaba de chegar de uma aula de português que por algum milagre te abriu os olhos para o mundo da escrita. Depois de anos amando a matemática, ou a biologia, você resolve ser escritor. Compra um belo caderno com capa de couro, ou com aquelas capas da cartão branquinhas branquinhas e começa a escrever uma história linda. Tudo vai bem, você já tem uns 5 capítulos escritos, no mais fino português, seu livro começa a ficar interessante e sua mente fervilhando idéias fresquinhas, prontas para se tornarem palavras, frases, textos ricamente contextualizados.

Nessa hora então você sai pra respirar um bom ar puro, esticar a coluna, mover os dedos dos pés. Quando volta, algo inesperado aconteceu: a sua xícara de café que estava estratégicamente localizada ao alcance da sua mao direita, agora está inevitavelmente posta de boca para baixo em cima do seu livro. As páginas brancas agora apresentam um tom levemente... café! Uma mancha cobre agora mais da metade da página que aguardava palvras dispostas a transcrever uma idéia. e o que é pior, o líquido se espalha rapidamente por todos os capítulos anteriores. No desespero por salvar o seu trabalho, você corre e tira a xícara daí que deixa sua marca na primeira página, uma manchete circular. Suas mãos deslizam de cima a baixo removendo o excesso do café derramado, o que só piora a situação, borrando as poucas palavras ainda visíveis.

Mas ainda resta uma solução: arrancar as folhas sujas e recomeçar a sua história. Por mais doloroso que seja, é uma saída, aceitada por muitos, pois o seu livro, embora desfalcado em folhas, continua alvo, imaculado. Existe ainda uma segunda solução: deixar aí a mancha e continuar de onde havia parado. Seu livro continuará inteiro, mas a mancha sempre te recordará do que aconteceu. No meio da sua história sempre haverá uma interrupção inesperada. Você pode dizer: "É que eu não tive a culpa, alguém derramou o meu café". E eu pergunto: "De quem era o café? Quem o colocou aí?". Algo que servia para te orientar, te manter desperto enquanto se expressava, acabou sendo motivo de um desatre total.

Assim sinto que está a minha vida. Uma mancha na minha história, que preferia não levar comigo permanece interrompendo a minha história e me fazendo lembrar do que passou. Bem que eu preferiria arrancar as páginas que se perderam, mesmo que elas antes continham um lindo capítulo. Mas isso infelizmente não é possível, não se pode simplesmente discartar o que deu errado, a mancha seguirá sempre aí. Embora o livro continue com a capa de cartão branquinho, as folhas estarão amareladas, algumas já sem parte da história.
Às vezes sinto que nunca vou poder olhar para o borrão e seguir escrevendo, que sempre vai haver uma xícara estratégicamente derrubada. Que nunca vou poder abrir o livro para que as pessoas vejam, e sempre terei que mostrar apenas a limpa capa. Gostaria de ter meu livro branco de novo, pronto para a história que eu comecei a escrever. Me pergunto: "Quando poderei retomar a história que eu comecei antes da interrupção? Será que vou conseguir dar um novo rumo a ela?"

Estou cansado de ter que tentar em vão apagar essa maldita mancha da minha história. Cansado de tentar esquecer e não querer/conseguir perdoar a xícara. Quero em vão arrancar as folhas, para então conseguir retomar a inspiração. Ao menos poder enxergar as letras e não enfocar no amarelo da folha...

Acho que agora já está mascarado o suficiente o que eu tenho pra dizer.

1 comentario:

Beloní Cacique Braga dijo...

Pedro querido, como artista tenho uma solução perfeita para a mancha de café. Nada acontece por acaso. Existem orbras de artes maravilhosas fruto do acaso. A mancha não precisa desaparecer para a bela imagem continuar a ser construída. Existem desenhos maravilhosos feitos com a borra de café.
Pegue a página marcada com o café e faça dela uma linda obra de arte. dará trabalho, pois a arte e a vida exigem esforço e persitência.
Jesus pagou um preço muito maior que uma borra de café, por nós. A mancha que Ele deixou sobre as páginas do seu livro que antecedem a borra de café, são manchas de sangue, preciosas. Volte as páginas e verá que as primeiras folhas do seu caderno eram pretas, depois as vermelhas, as brancas, as de borra de café que certamente serão brancas. Lembra dos livro colorido dos mágicos? As folhas mudam de cor. Depende de quem as ver.
Saiba que existe uma menina linda aqui no Brasil esperando pro você para escrever uma linda história, que não comparará a nenhuma outra. O passado é posto. Faz parte da vida, mas não é a vida.
Amamamos você. Vou fazer lindos desenhos em café em homenagem a sua e em minha vida. beijos amorosos
Mãe